segunda-feira, 6 de julho de 2015

Oliveira Vianna e sua Relevância para as Linhas Gerais de uma Sociologia Nacionalista Dissidente no Brasil

por Aires Ferreira 
(Apresentado no Encontro Nacional Evoliano em 11 de Setembro de 2014)
Introdução
Uma sociologia contra a sociologia
A Sociologia surge, como diz Agnes Heller, como um mecanismo de desfetichização da modernidade, mas, ao mesmo tempo, imbuída da necessidade constante de reificação de seu objeto e admitindo o paradigma moderno como sub specie aeternitatis, que além de inexorável e irrevogável teria açambarcado a totalidade das relações sociais através da substituição da estratificação pela divisão funcional orgânica. Ainda segundo Heller, a pré modernidade não demandaria uma ciência social, nem mesmo poderia cogitá-la, por possuir uma outra estrutura de certificação ontológica.
Um dos grandes problemas em lidar com esta concepção de Ciência Social reside no fato da modernidade, por vezes impor-se muito mais como discurso que como fato social, e na dificuldade em reconhecer a profunda cisão que divide o universo social em enclaves modernos e pré modernos que se expressam em relações de tensão e acomodação cuja clivagem poucas vezes se mostra relevante aos estudiosos desta disciplina. 
É justamente no bojo desta clivagem que, no início do século XX, Oliveira Vianna vai estruturar seu pensamento na dicotomia entre o Brasil real, do direito costumeiro das gentes, de onde emanariam as forças vitais da nacionalidade; e o Brasil juridicamente normatizado por um direito intelectual, alheio às formas irracionais e arcaicas daquele primeiro Brasil.
A essência da tese de O. Vianna, sobre nosso devir civilizatório, poderia ser descrita, muito resumidamente, como a que afirma que a grande componente social da civilização Brasileira em forja, exceto por recortes específicos, não abraçou o projeto de modernidade do Liberalismo e acalenta ainda as estruturas epistemológicas e culturais pré modernas que, poderíamos dizer, a aproximam mais do “Oikos” grego que do cosmopolitismo global contemporâneo. Lendo-se aqui, esse Oikos, como a grande “fazenda” doméstica, autoritariamente dirigida, por um príncipe ou senhor territorial, patrício, cujo motivo não reside na aquisição capitalista de dinheiro, mas na cobertura natural e organizada das necessidades de tal senhor; tal como diz Weber.
Esta cisão assinalada por Vianna assenta-se sobre a polarização entre Estado e Sociedade, enquanto estruturas que apresentam naturezas e interesses antagônicos. Aliás, a natureza deste direito que emana do caráter sociológico, nacional das gentes e de sua relação com o aparato legal “científico” e profissional que se encarrega de asfixiar a vitalidade do direito natural “Folkish” destas gentes foi, ao longo da vida de Vianna, mote fundamental de uma carreira que conheceu pouca distinção entre suas duas vocações, acadêmica e pública. Para Vianna, a forja de uma civilização nacional Brasileira passa pela correta adequação desta relação Estado/Sociedade, através da racionalização das instituições políticas de uma forma não apartada entre a Lei Escrita e a Consuetudinária, mas em sua conciliação orgânica. À maneira de Mannheim, que em Ideologia e Utopia dirige sua crítica ao aparato burocrático racionalizador e unilateral, dizendo do “Funcionário” que: “ele não compreende que toda ordem racionalizada é somente uma das muitas formas em que as forças irracionais, socialmente concorrentes, são reconciliadas”; Vianna acrescentaria, dando como indiscutíveis as “preferências tenazes” fixadas na origem da formação de qualquer sociedade, que é preciso contar com esses “fatos de civilização” caso não queiramos ver irreconhecivelmente deformadas as instituições racionalizadoras que se lhe queiram impor.
Ao passarmos em revista a conjuntura desta relação entre estado e sociedade no que tange à formação das instituições políticas no Brasil, percebemos que num contexto onde a “Liberdade” veio antes da Organização, estas instituições têm sido desde sempre aparelhadas, e após o fim do Império, o Brasil sai de um Feudalismo prático para uma República teórica.
Organização x Liberdade
Eis um binômio fundamental na análise de Vianna sobre o subdesenvolvimento das instituições políticas no Brasil. Como bem coloca Paulo Edmur de Souza Queiroz, em “Sociologia Política de Oliveira Vianna”, “Para Oliveira Vianna o pensamento político que Mannheim define como o intelectualismo burguês liberal-democrático, a partir do século XIX, não fez mais, no Brasil, do que demonstrar a tese de que na aplicação intelectual, pura, de um pensamento político a uma realidade sociológica, esse pensamento é inevitavelmente deformado por essa realidade.” (1975, p. 36) Vianna percebia no Liberalismo um novo modelo político-ideológico importado pela intelligentsia pré-republicana que aprofundaria a dissociação entre Estado e Sociedade, e do encontro entre as estruturas semifeudais estabelecidas, com ideologia e uma norma jurídica burguesas consuma-se um panorama onde o aparelho estatal, redesenhado para o livre empreendimento individual torna-se a presa perfeita de um conjunto de facções autocráticas representadas pela junção das velhas oligarquias que sobrevivem, adaptando-se às novas instituições representativas, com os novos especuladores financistas.
Clãs eleitorais formavam partidos que se organizavam ao sabor de interesses pessoais, preterindo a ideia da unidade e da centralização como meios de organização nacionais. Com a República, se aprofundaria o trabalho de desarticulação e fragmentação desta unidade às escusas de um federalismo, como diria Vianna, “mal compreendido e mal praticado, sob o ilusório pretexto de realizarem, assim, a liberdade.”
A polarização entre organização e liberdade, cuja forja civilizacional Brasileira tem sido desde sempre refém, pode ser encarada por outro binômio, o da afirmação do indivíduo, contra a afirmação do grupo. A estruturação Liberal do Estado Brasileiro, além de ter cavado um abismo entre o Brasil das gentes e o Brasil legal, afastando o homem-massa das instituições políticas; aprofundou também seu insolidarismo e indiferença às coletividades. Dos núcleos sociais familiares e profissionais, até as coletividades culturais e de seu senso de nacionalidade, a afirmação do indivíduo tem preponderado sobre a afirmação do grupo.
Vianna nos fala como o espírito de comunidade tem sido mutilado desde a mais remota ocupação de nosso território, onde a dispersão e o isolamento darão lugar a um tipo humano que não vela ou se interessa pelo bem comum, senão pelos seus próprios bens particulares e que não está disposto à cousa pública.
Resta-nos assim questionar, como realizar a construção desta mentalidade solidarista, como desenvolver este espírito comunitário? 
Para Vianna, além das forças armadas e do escotismo juvenil, o grande foco metodológico desta transformação caberia às organizações Sindicais e Corporativas.
A Consciência Corporativa
Tendo patente que a Democracia Liberal é incompatível com o desenvolvimento nacional, por evasão direta de focos prioritários, que além dos já citados, incluem ainda soberania, infra estrutura, autonomia energética e industrial, ordem social e controle da “stasis”; Oliveira Vianna elabora ao longo de suas obras, uma complexa pesquisa do maquinário teórico Corporativista, entendendo as Corporações em um contexto onde seriam o único fundamento possível do poder público.
Como Durkheim, que via o Estado como órgão especial destinado a gerar representações de valor coletivo, para Vianna, num devir civilizatório como o Brasileiro, fundamentalmente isolacionista, insolidarista e anticomunitário, como descreve fartamente em suas obras, principalmente em “Instituições Políticas Brasileiras”; o aparelho Estatal deveria encarregar-se da politização da Sociedade através das Corporações, organizando o corpo social a partir da noção de grupo ao invés da noção de indivíduo, ensejando assim a ascensão do grupo como sujeito de direitos e faculdade de ação daí decorrente.
Vianna vai buscar no Realismo Jurídico de Brandeis, a concepção de individualismo grupalista, que afirma que é no grupo que o indivíduo se realiza em sua plenitude. Vai mais além, e de Marcelo Caetano extrai a definição de que “há regime corporativo sempre que uma atividade é representada e regulada por aqueles que a desempenham”; atando a Manoilesco, para quem o corporativismo puro seria o sistema político em que a fonte do poder legislativo supremo é constituído pelas Corporações.
No esteio destes princípios, o poder não emanaria do “povo massa”, anônimo e desqualificado, mas de forças coletivas economicamente, cultural e socialmente ativas, e institucionalmente encarregadas de seu próprio destino. O Estado Corporativo seria, neste contexto, a incorporação do “Volkgeist”, o instrumento que realiza a finalidade suprema da nação, agindo como interventor econômico, gestor de conflitos e modulador de preços no lugar do livre mercado, trabalhando sempre no sentido da supressão do antagonismo de classe através da conciliação entre capital e trabalho.
As Corporações, sendo estes corpos de natureza pública e colocando-se na posição intermediária entre os indivíduos e o estado, tornar iam-se eficientes substitutos da democracia parlamentar liberal, com a instituição da Câmara Corporativa, tendo a função legislativa.
De maneira objetiva e sintética, podemos afirmar que Vianna buscou construir uma concepção de Estado Corporativo com as seguintes características: 
• Sem caráter Totalitário, dada a influência de Pirou, baseadas na ideia da convenção coletiva e no caráter fiscalizador do Estado; mas rejeitando a concepção de Manoilesco, onde as Corporações estariam sujeitas ao controle do Partido Único.
• Colaboracionista, no sentido clássico da “terceira solução”, onde através da conciliação entre Capital e Trabalho o antagonismo de classe seria suprimido em função do interesse supremo do Estado.
• Antiliberal, do ponto de vista econômico, já que o Livre Mercado não seria o agente modulador de preços e que seu saneamento se daria no equilíbrio entre oferta e procura; e do ponto de vista ideológico, visto que a concepção de grupo teria mais força que a de indivíduo e o capitalista não seria alvo da superestimação dada pelo estado burguês, mas apenas o cumpridor de uma função social cujo fim último seria a promoção do interesse nacional.
• Apartidário e Unicameral, pois tendo as Corporações e convenções coletivas no papel de Legisladores cessaria a necessidade de qualquer organização partidária paralela.
Percebemos, no esboço que aqui se desenha um programa de reestruturação radical do modelo societário Brasileiro a partir das brechas deixadas por um liberalismo que se encastelou em um estado alienado das preferências tenazes do Brasil real.
Malgrado erros e acertos, concordâncias e discordâncias, o ponto de vista ideologicamente eclético e cirurgicamente realista de Oliveira Vianna sobre a adaptação do ideal corporativo à realidade Brasileira toca em feridas até hoje expostas. O Zeitgeist que nos dirige na Pós-Modernidade é refratário ao ideal corporativo, em grande parte por conta da atomização do indivíduo em uma socioesfera fortemente insolidarista e rompedora do tecido comunitário, em especial no Brasil. A concepção corporativa de Estado fornece, porém, um antídoto real ao esvaziamento político do Estado e sua predação por uma sociedade civil aparelhada pela via cultural. Aqui no Brasil, o Estado se tornou refém, neutralizado, despolitizado e burocratizado, de um poder que se exerce a partir de uma base metapolítica e pluri-ideológica, que se autodenomina como "sociedade civil organizada". Esta S.C.O. é justamente a polarização ideológica que busca fomentar uma opinião pública mobilizada contra os mais vitais interesses do país, estratificando o corpo social em bases antagônicas e totalmente desconexas da produção, da cultura e dos seus reais enclaves de poder. As Corporações são o antídoto do "onguismo" e expressão absoluta e radical de uma verdadeira sociedade civil, que no Brasil ainda está por ser organizada. 

sexta-feira, 5 de junho de 2015

SOBRE PÁTRIA EDUCADORA E AVALIAÇÃO

Dídimo Matos
À leitura dos autores clássicos da Educação Brasileira, Vasconcellos, Hofmann, com exceção de algum tipo para Luckesi, a impressão que se tem nalguns momentos é de que foi um texto escrito por Lênin para o desembocar da revolução russa, no dia seguinte.
A luta de classes parece ser a base principal do escrito, a revolução pela avaliação o meio, e o socialismo como o paraíso na Terra, o fim.
Lidos por Eric Voegelin, o filósofo alemão provavelmente veria nisso um modo de gnosticismo, o fim seria então, dizia Voegelin, imanentizar o ESCATON, não por meio de uma drástica e armada revolução que acabasse todos os problemas por meio da “revolução bolchevique”, mas ao invés disso por meio de uma revolução mais sutil feita de “avaliações emancipatórias”.
Segue então uma abordagem diferente tendo em vista o Projeto Pátria Educadora da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), elaborado pelo prof. Mangabeira Unger. Faça-se a ressalva de que esse texto é responsabilidade de seu autor.
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Avaliação e projeto da SAE
Uma abordagem pensando em avaliação e intervenção.
Os mecanismos avaliatórios do projeto tem, entre outros fins, o de encontrar no sistema educacional, i) aquelas escolas em que os alunos não aprendem, ii) os alunos que mesmo numa boa escola não aprendem e iii) aqueles alunos para as quais a escola comum é um freio dados seus talentos.
Cada tipo de avaliação teria então um fim diverso.
O primeiro tipo teria como finalidade melhorar por meio de intervenção uma escola que está condenando o conjunto dos seus alunos ao fracasso pessoal futuro como cidadão, pessoa, pai ou mãe, trabalhador ou intelectual.
O segundo tipo teria por fim encontrar aqueles alunos que mesmo com um bom sistema escolar e educacional não reúnem as condições cognitivas que permitissem acompanhar, devidamente, o ritmo do ensino.
O terceiro, por sua vez teria por finalidade encontrar talentos em destaque, aquela parcela genial da população em que se encontram os Newtons, Darwins, Perelmans ou Mozarts e Picassos. Aqueles sujeitos para quem a escola comum não passa de um estorvo ou freio.
Cada sistema de avaliação permitiria um tipo diverso de intervenção modificadora da atitude e prática que seriam os culpados pelo atraso.
No segundo a intervenção se relacionaria com a correção em um sistema alternativo de ensino de problemas cognitivos, os que se relacionam a ordem ou a alguma deficiência de aprendizagem, com o intuito de devolução ao sistema “convencional”.
O terceiro se relaciona por sua vez a um outro sistema educacional paralelo, nesse o objetivo seria então, dar asas as possibilidades, descobrir nossos superdotados, talentosos, gênios, e dar a eles as condições de desenvolvimento desses recursos com abertura inclusive de ascensão acadêmica, queimando etapas entre as classificações de ensino.
Penso que tais modificações são muito bem-vindas, como diz o Ministro Mangabeira Unger, “uma pessoa não pode ser condenada pelo lugar que nasceu a ser excluída ou negligenciada em seus talentos”.
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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Ainda o paulofreirismo

Esse vídeo...



Causou grande polêmica e comoção, e, principalmente, revolta.

Então, nosso colaborador, prof. me. Dídimo Matos fez um novo vídeo para seu canal onde traça relações do que ele chama de paulofreirismo e o acontecido, confiram aqui...



Pra saber o que caracteriza mais especificamente o paulofreirismo vejam outro vídeos do canal...

Canal Dídimo Matos

domingo, 17 de maio de 2015

Pátria Educadora

Nesse post apresentamos um vídeo do Prof. Me. Dídimo Matos tratando do documento Pátria Educadora da SAE - Secretaria de Assuntos Estratégicos, dirigida pelo Prof. Mangabeira Unger, que trás um novo modelo educacional para o Brasil. O comentarista vê uma vantagem desse projeto em relação aos demais pela vinculação da mudança educacional a um projeto nacional de desenvolvimento. O posicionamento do vídeo não é o posicionamento oficial do Movimento, mas o posicionamento de um de seus colabores num processo de debate ainda, postamos aqui para o acesso e livre debate de todos.





ROBERTO MANGABEIRA UNGER



Roberto Mangabeira Unger é brasileiro, professor de Harvard e atual titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos, já havia ocupado a mesma pasta no governo Lula, vem pensando o Brasil há muito tempo e suas ideias estão espalhadas por mais de uma dezena de livros, o último lançado no país foi O que a esquerda deve propor da Ed. Civilização Brasileira.

Nesse vídeo ele apresenta a proposta da SAE na Câmara Federal:


sexta-feira, 15 de maio de 2015

Educação

Mais um vídeo do Prof. Me. Dídimo Matos sobre Educação. Nesse vídeo são discutidos três artigos do livro O que o Brasil quer ser quando crescer, de Gustavo Ioschpe.


sábado, 2 de maio de 2015

Educação e geopolítica

No vídeo abaixo o professor Dídimo Matos apresenta e discute o texto "A Crise na Educação" de Hanah Arendt, texto do livro:



Dídimo faz ainda uma relação entre educação e geopolítica, veja:



O prof. Dídimo e outros colaboradores desse Blog o convidam, caso aprecie as nossas análises para o ENET:


Volte sempre, comente, o Blog é nosso.




quinta-feira, 30 de abril de 2015

Livros dissidentes em português

Alguns livros de autores dissidentes em português...



Alguns em português de Portugal.




Obs. Temos quase todos esses livros para vender, interessados entrem em contato em movimentobg@gmail.com.

Obs2. Os livros estão também na estante virtual, busque pelo título ou pelo autor.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Ainda sobre Meridionalismo

O meridionalismo é a visão dos problemas do mundo a partir do SUL, é ainda a preconização das soluções de tais problemas a partir dessa perspectiva, preparamos o vídeo abaixo para explicar o Meridionalismo e abaixo disponibilizamos os links para aprofundar o assunto, bem como o mapa do Meridionalismo.







Artigo Qual é o nosso bloco? Prof. Dr. André Martin

Artigo Prof. Dr. Edu Albuquerque - A teoria Geopolítica Meridionalista de André Martin


Acompanhem o blog, se inscrevam, vejam os vídeos, leiam os artigos, há muito a fazer, não podemos ser contaminados seja pelo imobilismo seja pela adesão a um conjunto de ideias que não o nosso. 

Em breve teremos um encontro regional no Nordeste para tratar de alternativas as condições impostas a nós pela situação política atual. Acompanhem.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Nós no mundo

O Brasil está inserido no contexto global, na política de poder mundial e ocupa nela uma posição rasteira e quase rastejante alternando-se entre um apoio incondicional e apaixonado pelo "irmão do norte", a potência hegemônica global que mais nos tem a ameaçar que a ajudar, ora entregando-se às paixões ideológicas e pensando numa "pátria grande" que nem é a nossa nem faz parte de nossos ideais.

Em resposta as duas posições nos colocamos ao lado do Meridionalismo, uma visão da política global de poder a partir de uma dupla perspectiva, a perspectiva do Sul do mundo e no sul a partir do Brasil. Segue um vídeo que começa a esclarecer o que é, mas voltaremos ao assunto em outros posts.


Apoiamos ainda certas iniciativas no mundo que se ponham como alternativa ao globalismo atlantista que tem os EUA e OTAN como referências, o Eurasianismo é uma dessas iniciativas. Segue um vídeo que esclarece um pouco essa ideia.


Voltem sempre, mais novidades em breve.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Sobre forjas e Arcanjos tripolares

Parece que "santo de casa" realmente não faz milagre, como já é de costume por essas plagas, é preciso que venha alguém de fora para dizer umas verdades óbvias: 1 ."O povo Brasileiro é Arcaico." - 2. "O Brasil precisa forjar o seu logos nacional" (referência à conferência do Professor A. Dugin no último Encontro Nacional Evoliano).
Sim, forjar-se enquanto nação, encontrar seu próprio "arcanjo". A própria soberania, auto determinação e projeção geopolítica consistente, passam primeiro pela independência espiritual, através da forja, ou encontro da "alma nacional", por essa gesta civilizatória do descobrimento de um Logos Sacro.
Por certo, ainda não podemos dizer com certeza que esse Logos subsista de forma unitária, ou fragmentada em função de suas diferentes matrizes étnicas.
 Mas se ainda não sabemos, ou não queremos saber, sobre o que somos, Oliveira Vianna nos ajudou muito bem a saber sobre o que não somos. No mapeamento que realizou sobre as forças vivas, componentes da proto nação, determinados pontos se estabelecem de forma clara.
Em primeiro lugar se reconhece sua vocação Autárquica, Autoritária e Patriarcal; a ausência de uma vocação democrática, principalmente em sua forma representativa e liberal. Segue-se de uma dinâmica de povoamento refratária ao comunitarismo, tendo predominado a estrutura do "Oikos" antes da "Polis", onde Datas, Lotes, Capitanias e Sesmarias provaram-se como estratégias de ocupação territorial que fomentavam o isolacionismo e um direito costumeiro. O insolidarismo e o anti urbanismo, fundados nas autarquias agrárias, baseadas em Clãs, onde cada família constituía em si uma "república", finalizam este retrato do Brasil profundo, arcaico e anti moderno por essência.
Partindo de tais premissas, Vianna já percebia o descompasso endêmico entre esse Brasil profundo e as Instituições pós imperiais que visavam atrelar esta sui generis constelação, em cuja formação dialogavam matrizes culturais que iam do Neolítico ao semi feudalismo, ao turbilhão atroz do processo de modernização, republicano, liberal e democratizante.
Nos batemos aqui com o questionamento: O que significa modernidade fora do eixo ocidental? Um processo institucionalizador inexorável, ou um discurso generalizante em busca de hegemonia?
Independente da resposta, este parece ser um fluxo no qual já estamos, de toda forma, imersos; e uma chave para a convivência entre o moderno e o arcaico, uma arqueomodernidade, deve passar pela própria resignificação do que é moderno a partir de um logos arcaico. A ausência de um polo definitivo, nesse logos arcaico, nos traz a necessidade de criar, imaginar. Buscar nos repositórios simbólicos mais profundos de nossas ancestralidades, os protótipos espirituais desse Logos Sacro.
Esse diálogo entre o moderno e o arcaico, por sua vez, traz em seu bojo uma flagrante necessidade de ajustes e adequações institucionais ao aparelho estatal, que acertadamente, Alberto Torres e Oliveira Vianna relacionam com a reorganização corporativa das representações políticas da sociedade civil e do poder legislativo, bem como com a construção de um quarto poder coordenador, vitalício e soberano.
Tal debate não poderia ser mais atual. Torres e Vianna insistem em um tópico pétreo, o da inadequação do modelo de democracia liberal importado pelos republicanos de 1891, fazendo assim, moção de repúdio ao esboço do transplante das estruturas políticas anglo saxônicas ao Brasil.
 Na busca pela composição de instituições políticas sociologicamente fundamentadas, que salvaguardassem de fato os interesses da nação em forja, encontrava-se a clara noção de que não existem estruturas políticas universalizáveis, senão aquelas que prendem em cadeias irresistíveis os estados de nações não forjadas aos domínios de potências em busca de hegemonia. Como forma de subverter a sanha liberal democrata, a anarquia das facções partidárias e seus clãs regionais, no texto "Organização Nacional", Alberto Torres irá propor a criação do "Poder Coordenador", herdeiro do legado político e das funções do antigo e Imperial "Poder Moderador". Este "novo" poder teria o fito de dar uma totalidade orgânica às forças sociais da nacionalidade, oferecendo uma direção uniforme e comum, superando disparidades, dissociações e conflitos provinciais.
 Todas estas questões permanecem tragicamente atuais, e quando se fala, por exemplo, em uma nova constituinte e aumento da inserção popular no poder decisório, via "sociedade civil", uma acertada maneira de se impedir o sequestro das representações políticas, visto que todas as forças políticas organizadas em hegemonia no Brasil têm interesses próprios e divergentes dos interesses nacionais mais básicos, está na regularização dos conselhos técnicos nacionais e na organização corporativa desta própria "sociedade civil", traçando como critério o lugar que ocupam na produção, seja material, ou imaterial, os diversos grupos de interesse organizados; e que a convergência desses interesses seja o interesse nacional supremo, filtradas as diversas tendências ideológicas.
Estes resumidos apontamentos buscam oferecer novas pontes e uma contribuição para os esforços intelectuais contemporâneos na construção de um novo nível ideológico que supere a metáfora direita-esquerda em prol de uma síntese política da arqueomodernidade.

Pensando sobre prioridades


#Cancão Serrano

Diante da polarização cada vez mais aguda, manter-se na neutralidade ou, mais duro ainda, criar uma terceira opção tem se mostrado cada vez mais difícil. E nesta dificuldade parece se encontrar os que se alinham a um pensamento dissidente no Brasil.

Não há movimento intelectual organizado, nem de massas, nem partidário que encabece uma terceira via ou dê voz a tons genuinamente dissidentes no país. Não há, nos termos do Evola, sequer uma “Direita Autêntica” organizada. Nem surgirá pronta amanhã, num piscar de olhos. È necessário ter isto em mente constantemente e iniciar os trabalhamos em prol de vanguardas, elites intelectuais, formulações filosóficas que viabilizem tal coisa no futuro. Se for uma opção tradicionalista, será necessário começar de cima para baixo não de baixo para cima (nos moldes do materialismo marxista).

As alternativas que aí estão, não são as melhores, convenhamos, mas são o que há: de uma lado os PTistas, MST, ONGs e Movimentos “Sociais”, Extrema Esquerda, etc. Do outro alguns setores da Esquerda moderada, Liberais, Olavetes e descontentes não-organizados de diversos matizes (militaristas, etc.). Para nossos fins cá, chamarei o primeiro lado de “Esquerda que aí está” e o último de “Direita que aí está”.

Os “dissidentes” que romantizam o cariz “antiliberal” do lado da “Esquerda que aí está”, fecham os olhos para o progressismo moral, antitradicionalismo iconoclasta e a libertinagem que este promove, no melhor do espírito liberal em costumes pós-iluminista. Os que, por outro lado, miram a “Direita que aí está”, por vezes negligenciam o aspecto liberalizante-globalizante-lambe-botas-americano (e antinacional) que se mostra nestas manifestações.

Uma terceira opção realmente pujante, daria voz a Nacionalistas, Monarquistas e similares – vigorosamente combatendo o vírus da subversão comunista e da degeneração do capital apátrida, esforçando-se por um Brasil realmente grande, líder da América do Sul. Só aceitaria, radicalmente, um mundo Multipolar onde o polo da América do Sul fosse liderado pelo Brasil, liderado em armas, em economia e, no principal, no discurso e projeto civilizacional (no “logos”). Um mundo multipolar onde o pólo Sulamericano seja encabeçado por qualquer outra potência, mesmo uma vizinha, que não o Brasil (pela seu pelo geográfico e estratégico que deve ser transformado em peso geopolítico), não servirá a esta terceira opção.

Há um certo consenso sobre o papel que os EUA desempenham no cerceamento das possibilidades geopolíticas do Brasil, nisto não há muita discordância. Mas há acerca do modo de conceber a integração Sulamericana. Crer que é melhor ao Brasil ser escravo (ou “parceiro”) da Venezuela que dos EUA é, antes de qualquer coisa, uma opção ideológica e não a consequência lógica de um nacionalista radicalmente comprometido com a Soberania e Grandeza de seu país. Isto demonstra muito mais seu fetiche de satanização dos EUA, num nível maniqueísta e moralista (nietzscheanamente). O melhor para o Brasil é que ele tome as rédeas de si, não que se venda por conveniência ideológica (já que os partidos que aí estão falharam em não elaborar o “logos” nacional, em não formarem um projeto de grandeza, uma vez que no fundo, estão comprometidos com o Niilismo, Modernismo, Materialismo e Antipatriotismo). Se o governo que aí está não conseguiu forjar um “logos” nacional, nem se comprometeu radicalmente pelo bem da Pátria, não decorre como consequência lógica que temos que nos sujeitar ao “vizinho” que tentou mais exitosamente fazê-lo. Não adianta posar de “dissidente”, “Evoliano”, “tradicionalista” e no final juntar-se a Extrema Esquerda, MST, ONGs de gênero, etc. apoiando a doutrina e discurso oficial da acomodada hegemonia universitária médio-burguesa que vê a si mesma como genuína representante do Povo e do Trabalhador, ou pior, das aspirações mais sublimes e excelsas do País, por mera birra anti-liberal. Utilizemos como critério límpido para separar os “vendidos”, ou simplesmente cooptados pela “Esquerda que aí está” a preferência em ver o país sob lençóis “Bolivarianos”, apoio ao MST, etc.

O projeto “Pátria Grande” não é nosso, não é criação do Gênio brasílico, Bolivarianismo é uma doutrina exógena, estrangeira tanto quanto o liberalismo internacionalista. É importante não se deixar levar por “palavras-gatilho” como “sionista”, “liberal”, etc. Escondendo uma mentalidade moralista e puritana, imersa na retórica maniqueísta da luta do Bem contra o Mal e no desejo (pseudo-angelical, diria Guillaume Faye) de “salvar o mundo”, “fazer o Bem”, mostrar-se “revolucionário-idealista-do-bem-cor-de-rosa-quase-um-Chê-Guevara”.

O compromisso radical do Identitário, será com seu Solo e seu Sangue, como dirá o aboiador encourado montado em seu alazão, “Sertão Varonil, tu és meu Brasil, meu berço e meu lar!”. O sujeito de uma terceira via que abre a boca pra gritar “Foda-se EUA!”, deverá gritar igualmente “Foda-se Venezuela!”.

Uma vez que nossa possibilidade não está feita, aqui e agora, devemos tomar a opção agora que melhor possibilite que nossa opção surja, forte e vigorosa. Se o corpo político moribundo já balança, curemo-lo com veneno. Eis o sentido do “Cavalgar o Tigre”. Achar que a salvação está na “Pátria Grande” bolivariana ou na cidadania de consumo global norte-americana é estar a zombar dos esforços egrégios incrustados na Pedra do Reino, nos vestígios submersos do arraial de Canudos, nas empoeiradas folhas dos esquecidos livros que falam do Quinto Império. É necessário começar a preparar as condições para que o Logos Nacional se manifeste, se materialize, unindo o passado ou futuro numa iluminação atemporal.

Qual a prioridade agora, aqui? O Brasil ou a “derrota” dos Americanos? No primeiro caso, tirar o PT e lavar o país, será a opção, mesmo que isto signifique se aliar a Olavetada e aos Liberais internacionalistas. Significará dar-lhes a vitória momentânea, afinal, estão mais organizados, para então, em oposição a eles, estruturar a terceira via necessária. Significará dar um passo para trás para dar dois para a frente. O próprio PT cresceu, e muito é devedor deste crescimento, na oposição às nuances liberais dos governos esquerdistas moderados do PSDB. A FN francesa hoje, por exemplo, deve muito do seu crescimento a humilhação de ser capacho dos EUA, via OTAN. Historicamente, sempre que houve uma força de terceira via forte, organizada, deixar para lutar com os Liberais depois mostrou-se estrategicamente mais vantajoso, que lutar contra o fanatismo religioso da Extrema Esquerda; daí que o movimento tático fora aliar-se a liberalada para esmagar a serpente comunista, para só então brigar radicalmente contra os internacionalistas liberais/vendilhões da Pátria. A opção radical pela derrota dos EUA, significará sacrificar o Brasil enquanto Pátria, para diluí-lo na “Pátria Grande” Bolivariana, fortalecendo o PT agora e torcendo para que este direcione o país para a “oposição” global, liderada pela Rússia, Irã e Venezuela.

Algumas pessoas do meio dissidente talvez tomem como certo, e apostem todas as suas fichas, que no caso de uma Tereceira Guerra Mundial, o Brasil do PT, prontamente se disporá, imediatamente anunciará sua adesão ao lado russo, contra os EUA. E por isto, mesmo sem gostarem do MST ou do Jean Willys, entram na mesma trincheira destes pelo ódio mortal aos EUA. É bom lembrar que, o fato do Brasil vender bem (ou possuir afinidades ideológicas) para a China ou Rússia, não significa que prontamente estará no lado deste numa deflagração mundial: não esqueçamos do que aconteceu na primeira Era Vargas, naquela época Itália e Alemanha eram grandes parceiros comerciais (e de certas afinidades ideológicas) também. Por mais que a massa esquerdista arda de desejos no antiamericanismo, os quadros acomodados e já velhos do PT (alguns até felizes pelo Brasil do Vargas ter lutado do lado “certo” da 2ª Guerra), talvez não disponham do mesmo entusiasmo. Realmente, será quase impossível um Brasil comandado pelos liberais e olavetes estarem do lado da Rússia. Mas um Brasil comandado pelo PT não significa, assim tão inexoravelmente, uma adesão imediata ao lado russo. Acreditar que significa é muito mais um ato de fé do que uma real constatação das possibilidades. É possível? é, é mais possível? é também, mas é absolutamente certo? Não. Crer que sim, é dar um salto na fé, estejam cônscios.

E novamente fazemos a pergunta, qual é a prioridade AGORA, o Brasil? Ou “derrotar” os EUA? Na atua conjuntura temos de eleger uma prioridade, sem grupo organizado e influente, não tem como levar os 2 ao mesmo tempo e ter êxito.

A questão é que a escolha deve ser feita pensando no depois. Uma vez que se admite que não há “salvação”, opção realmente que valha a pena, será mais prudente tomar uma opção que melhor garanta o surgimento de uma tal terceira via no futuro. Ajudar a trucidar a “Esquerda que aí está” dando poder a “Direita que aí está” será melhor ou pior para o surgimento de uma tal terceira posição? Derrotar a “Direita que aí está” ajudando a “Esquerda que aí está” será melhor ou pior no futuro?

Será mais fácil uma organizar e fortalecer uma terceira opção, na oposição a um governo liberal internacionalista ou em um governo bolivariano da “Pátria Grande”?

O assunto é complicado e os tempos agitados dificultam ainda mais as coisas. Me parece, que a opção mais fecunda para termos uma terceira posição realmente forte e combativa, para o bem do País, seria agora lutar contra a ameaça bolivariana. Dar um passo para trás (para darmos dois para frente). E não dois para frente (para dar um passo para trás), como quer o Lenin.
Em breve um novo modo de ver as coisas...