Parece que "santo de casa" realmente não faz milagre, como já é de
costume por essas plagas, é preciso que venha alguém de fora para dizer umas verdades óbvias: 1 ."O povo Brasileiro é Arcaico." - 2. "O Brasil
precisa forjar o seu logos nacional" (referência à conferência do Professor A. Dugin no último Encontro Nacional Evoliano).
Sim, forjar-se enquanto
nação, encontrar seu próprio "arcanjo". A própria soberania, auto determinação e projeção geopolítica consistente, passam primeiro pela
independência espiritual, através da forja, ou encontro da "alma
nacional", por essa gesta civilizatória do descobrimento de um Logos
Sacro.
Por certo, ainda não podemos dizer com certeza que esse Logos subsista
de forma unitária, ou fragmentada em função de suas diferentes matrizes
étnicas.
Mas se ainda não sabemos, ou não queremos saber, sobre o
que somos, Oliveira Vianna nos ajudou muito bem a saber sobre o que não
somos. No mapeamento que realizou sobre as forças vivas, componentes da
proto nação, determinados pontos se estabelecem de forma clara.
Em
primeiro lugar se reconhece sua vocação Autárquica, Autoritária e
Patriarcal; a ausência de uma vocação democrática, principalmente em sua
forma representativa e liberal. Segue-se de uma dinâmica de povoamento
refratária ao comunitarismo, tendo predominado a estrutura do "Oikos"
antes da "Polis", onde Datas, Lotes, Capitanias e Sesmarias provaram-se
como estratégias de ocupação territorial que fomentavam o isolacionismo e
um direito costumeiro. O insolidarismo e o anti urbanismo, fundados nas autarquias agrárias, baseadas em Clãs, onde cada família constituía em si uma "república", finalizam este retrato do Brasil profundo, arcaico e anti moderno por essência.
Partindo de tais premissas, Vianna já percebia o descompasso endêmico entre esse Brasil profundo e as Instituições pós imperiais que visavam atrelar esta sui generis constelação, em cuja formação dialogavam matrizes culturais que iam do Neolítico ao semi feudalismo, ao turbilhão atroz do processo de modernização, republicano, liberal e democratizante.
Nos batemos aqui com o questionamento: O que significa modernidade fora do eixo ocidental? Um processo institucionalizador inexorável, ou um discurso generalizante em busca de hegemonia?
Independente da resposta, este parece ser um fluxo no qual já estamos, de toda forma, imersos; e uma chave para a convivência entre o moderno e o arcaico, uma arqueomodernidade, deve passar pela própria resignificação do que é moderno a partir de um logos arcaico. A ausência de um polo definitivo, nesse logos arcaico, nos traz a necessidade de criar, imaginar. Buscar nos repositórios simbólicos mais profundos de nossas ancestralidades, os protótipos espirituais desse Logos Sacro.
Esse diálogo entre o moderno e o arcaico, por sua vez, traz em seu bojo uma flagrante necessidade de ajustes e adequações institucionais ao aparelho estatal, que acertadamente, Alberto Torres e Oliveira Vianna relacionam com a reorganização corporativa das representações políticas da sociedade civil e do poder legislativo, bem como com a construção de um quarto poder coordenador, vitalício e soberano.
Tal debate não poderia ser mais atual. Torres e Vianna insistem em um tópico pétreo, o da inadequação do modelo de democracia liberal importado pelos republicanos de 1891, fazendo assim, moção de repúdio ao esboço do transplante das estruturas políticas anglo saxônicas ao Brasil.
Na busca pela composição de instituições políticas sociologicamente fundamentadas, que salvaguardassem de fato os interesses da nação em forja, encontrava-se a clara noção de que não existem estruturas políticas universalizáveis, senão aquelas que prendem em cadeias irresistíveis os estados de nações não forjadas aos domínios de potências em busca de hegemonia. Como forma de subverter a sanha liberal democrata, a anarquia das facções partidárias e seus clãs regionais, no texto "Organização Nacional", Alberto Torres irá propor a criação do "Poder Coordenador", herdeiro do legado político e das funções do antigo e Imperial "Poder Moderador". Este "novo" poder teria o fito de dar uma totalidade orgânica às forças sociais da nacionalidade, oferecendo uma direção uniforme e comum, superando disparidades, dissociações e conflitos provinciais.
Todas estas questões permanecem tragicamente atuais, e quando se fala, por exemplo, em uma nova constituinte e aumento da inserção popular no poder decisório, via "sociedade civil", uma acertada maneira de se impedir o sequestro das representações políticas, visto que todas as forças políticas organizadas em hegemonia no Brasil têm interesses próprios e divergentes dos interesses nacionais mais básicos, está na regularização dos conselhos técnicos nacionais e na organização corporativa desta própria "sociedade civil", traçando como critério o lugar que ocupam na produção, seja material, ou imaterial, os diversos grupos de interesse organizados; e que a convergência desses interesses seja o interesse nacional supremo, filtradas as diversas tendências ideológicas.
Estes resumidos apontamentos buscam oferecer novas pontes e uma contribuição para os esforços intelectuais contemporâneos na construção de um novo nível ideológico que supere a metáfora direita-esquerda em prol de uma síntese política da arqueomodernidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário