quinta-feira, 26 de março de 2015

Pensando sobre prioridades


#Cancão Serrano

Diante da polarização cada vez mais aguda, manter-se na neutralidade ou, mais duro ainda, criar uma terceira opção tem se mostrado cada vez mais difícil. E nesta dificuldade parece se encontrar os que se alinham a um pensamento dissidente no Brasil.

Não há movimento intelectual organizado, nem de massas, nem partidário que encabece uma terceira via ou dê voz a tons genuinamente dissidentes no país. Não há, nos termos do Evola, sequer uma “Direita Autêntica” organizada. Nem surgirá pronta amanhã, num piscar de olhos. È necessário ter isto em mente constantemente e iniciar os trabalhamos em prol de vanguardas, elites intelectuais, formulações filosóficas que viabilizem tal coisa no futuro. Se for uma opção tradicionalista, será necessário começar de cima para baixo não de baixo para cima (nos moldes do materialismo marxista).

As alternativas que aí estão, não são as melhores, convenhamos, mas são o que há: de uma lado os PTistas, MST, ONGs e Movimentos “Sociais”, Extrema Esquerda, etc. Do outro alguns setores da Esquerda moderada, Liberais, Olavetes e descontentes não-organizados de diversos matizes (militaristas, etc.). Para nossos fins cá, chamarei o primeiro lado de “Esquerda que aí está” e o último de “Direita que aí está”.

Os “dissidentes” que romantizam o cariz “antiliberal” do lado da “Esquerda que aí está”, fecham os olhos para o progressismo moral, antitradicionalismo iconoclasta e a libertinagem que este promove, no melhor do espírito liberal em costumes pós-iluminista. Os que, por outro lado, miram a “Direita que aí está”, por vezes negligenciam o aspecto liberalizante-globalizante-lambe-botas-americano (e antinacional) que se mostra nestas manifestações.

Uma terceira opção realmente pujante, daria voz a Nacionalistas, Monarquistas e similares – vigorosamente combatendo o vírus da subversão comunista e da degeneração do capital apátrida, esforçando-se por um Brasil realmente grande, líder da América do Sul. Só aceitaria, radicalmente, um mundo Multipolar onde o polo da América do Sul fosse liderado pelo Brasil, liderado em armas, em economia e, no principal, no discurso e projeto civilizacional (no “logos”). Um mundo multipolar onde o pólo Sulamericano seja encabeçado por qualquer outra potência, mesmo uma vizinha, que não o Brasil (pela seu pelo geográfico e estratégico que deve ser transformado em peso geopolítico), não servirá a esta terceira opção.

Há um certo consenso sobre o papel que os EUA desempenham no cerceamento das possibilidades geopolíticas do Brasil, nisto não há muita discordância. Mas há acerca do modo de conceber a integração Sulamericana. Crer que é melhor ao Brasil ser escravo (ou “parceiro”) da Venezuela que dos EUA é, antes de qualquer coisa, uma opção ideológica e não a consequência lógica de um nacionalista radicalmente comprometido com a Soberania e Grandeza de seu país. Isto demonstra muito mais seu fetiche de satanização dos EUA, num nível maniqueísta e moralista (nietzscheanamente). O melhor para o Brasil é que ele tome as rédeas de si, não que se venda por conveniência ideológica (já que os partidos que aí estão falharam em não elaborar o “logos” nacional, em não formarem um projeto de grandeza, uma vez que no fundo, estão comprometidos com o Niilismo, Modernismo, Materialismo e Antipatriotismo). Se o governo que aí está não conseguiu forjar um “logos” nacional, nem se comprometeu radicalmente pelo bem da Pátria, não decorre como consequência lógica que temos que nos sujeitar ao “vizinho” que tentou mais exitosamente fazê-lo. Não adianta posar de “dissidente”, “Evoliano”, “tradicionalista” e no final juntar-se a Extrema Esquerda, MST, ONGs de gênero, etc. apoiando a doutrina e discurso oficial da acomodada hegemonia universitária médio-burguesa que vê a si mesma como genuína representante do Povo e do Trabalhador, ou pior, das aspirações mais sublimes e excelsas do País, por mera birra anti-liberal. Utilizemos como critério límpido para separar os “vendidos”, ou simplesmente cooptados pela “Esquerda que aí está” a preferência em ver o país sob lençóis “Bolivarianos”, apoio ao MST, etc.

O projeto “Pátria Grande” não é nosso, não é criação do Gênio brasílico, Bolivarianismo é uma doutrina exógena, estrangeira tanto quanto o liberalismo internacionalista. É importante não se deixar levar por “palavras-gatilho” como “sionista”, “liberal”, etc. Escondendo uma mentalidade moralista e puritana, imersa na retórica maniqueísta da luta do Bem contra o Mal e no desejo (pseudo-angelical, diria Guillaume Faye) de “salvar o mundo”, “fazer o Bem”, mostrar-se “revolucionário-idealista-do-bem-cor-de-rosa-quase-um-Chê-Guevara”.

O compromisso radical do Identitário, será com seu Solo e seu Sangue, como dirá o aboiador encourado montado em seu alazão, “Sertão Varonil, tu és meu Brasil, meu berço e meu lar!”. O sujeito de uma terceira via que abre a boca pra gritar “Foda-se EUA!”, deverá gritar igualmente “Foda-se Venezuela!”.

Uma vez que nossa possibilidade não está feita, aqui e agora, devemos tomar a opção agora que melhor possibilite que nossa opção surja, forte e vigorosa. Se o corpo político moribundo já balança, curemo-lo com veneno. Eis o sentido do “Cavalgar o Tigre”. Achar que a salvação está na “Pátria Grande” bolivariana ou na cidadania de consumo global norte-americana é estar a zombar dos esforços egrégios incrustados na Pedra do Reino, nos vestígios submersos do arraial de Canudos, nas empoeiradas folhas dos esquecidos livros que falam do Quinto Império. É necessário começar a preparar as condições para que o Logos Nacional se manifeste, se materialize, unindo o passado ou futuro numa iluminação atemporal.

Qual a prioridade agora, aqui? O Brasil ou a “derrota” dos Americanos? No primeiro caso, tirar o PT e lavar o país, será a opção, mesmo que isto signifique se aliar a Olavetada e aos Liberais internacionalistas. Significará dar-lhes a vitória momentânea, afinal, estão mais organizados, para então, em oposição a eles, estruturar a terceira via necessária. Significará dar um passo para trás para dar dois para a frente. O próprio PT cresceu, e muito é devedor deste crescimento, na oposição às nuances liberais dos governos esquerdistas moderados do PSDB. A FN francesa hoje, por exemplo, deve muito do seu crescimento a humilhação de ser capacho dos EUA, via OTAN. Historicamente, sempre que houve uma força de terceira via forte, organizada, deixar para lutar com os Liberais depois mostrou-se estrategicamente mais vantajoso, que lutar contra o fanatismo religioso da Extrema Esquerda; daí que o movimento tático fora aliar-se a liberalada para esmagar a serpente comunista, para só então brigar radicalmente contra os internacionalistas liberais/vendilhões da Pátria. A opção radical pela derrota dos EUA, significará sacrificar o Brasil enquanto Pátria, para diluí-lo na “Pátria Grande” Bolivariana, fortalecendo o PT agora e torcendo para que este direcione o país para a “oposição” global, liderada pela Rússia, Irã e Venezuela.

Algumas pessoas do meio dissidente talvez tomem como certo, e apostem todas as suas fichas, que no caso de uma Tereceira Guerra Mundial, o Brasil do PT, prontamente se disporá, imediatamente anunciará sua adesão ao lado russo, contra os EUA. E por isto, mesmo sem gostarem do MST ou do Jean Willys, entram na mesma trincheira destes pelo ódio mortal aos EUA. É bom lembrar que, o fato do Brasil vender bem (ou possuir afinidades ideológicas) para a China ou Rússia, não significa que prontamente estará no lado deste numa deflagração mundial: não esqueçamos do que aconteceu na primeira Era Vargas, naquela época Itália e Alemanha eram grandes parceiros comerciais (e de certas afinidades ideológicas) também. Por mais que a massa esquerdista arda de desejos no antiamericanismo, os quadros acomodados e já velhos do PT (alguns até felizes pelo Brasil do Vargas ter lutado do lado “certo” da 2ª Guerra), talvez não disponham do mesmo entusiasmo. Realmente, será quase impossível um Brasil comandado pelos liberais e olavetes estarem do lado da Rússia. Mas um Brasil comandado pelo PT não significa, assim tão inexoravelmente, uma adesão imediata ao lado russo. Acreditar que significa é muito mais um ato de fé do que uma real constatação das possibilidades. É possível? é, é mais possível? é também, mas é absolutamente certo? Não. Crer que sim, é dar um salto na fé, estejam cônscios.

E novamente fazemos a pergunta, qual é a prioridade AGORA, o Brasil? Ou “derrotar” os EUA? Na atua conjuntura temos de eleger uma prioridade, sem grupo organizado e influente, não tem como levar os 2 ao mesmo tempo e ter êxito.

A questão é que a escolha deve ser feita pensando no depois. Uma vez que se admite que não há “salvação”, opção realmente que valha a pena, será mais prudente tomar uma opção que melhor garanta o surgimento de uma tal terceira via no futuro. Ajudar a trucidar a “Esquerda que aí está” dando poder a “Direita que aí está” será melhor ou pior para o surgimento de uma tal terceira posição? Derrotar a “Direita que aí está” ajudando a “Esquerda que aí está” será melhor ou pior no futuro?

Será mais fácil uma organizar e fortalecer uma terceira opção, na oposição a um governo liberal internacionalista ou em um governo bolivariano da “Pátria Grande”?

O assunto é complicado e os tempos agitados dificultam ainda mais as coisas. Me parece, que a opção mais fecunda para termos uma terceira posição realmente forte e combativa, para o bem do País, seria agora lutar contra a ameaça bolivariana. Dar um passo para trás (para darmos dois para frente). E não dois para frente (para dar um passo para trás), como quer o Lenin.

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